Espondilite e gravidez
A gravidez induz alterações imunes e neuroendócrinas no corpo materno com o objetivo de proteger o feto de possíveis ataques imunológicos. A influência da gestação em sua doença é uma das preocupações de jovens portadoras de espondilite anquilosante (EA).
Há poucos trabalhos avaliando gestação em pacientes com EA. Por não ser doença comum, existe a dificuldade de reunir um grande número de pacientes para pesquisas. Dessa forma, os dados apresentados ainda são controversos.
Segundo artigo de revisão publicado em 2011, a gestação não melhora os sintomas da EA. Na maior parte dos pacientes a doença não é substancialmente alterada durante esse período. De acordo com os autores desta revisão, o padrão típico de doença é atividade durante o primeiro trimestre e início do segundo, às vezes acompanhado por flare (atividade de doença) na 20a semana. A atividade de doença reduz no último semestre, embora não cesse completamente.
Outro estudo publicado, também em 2011, por Lui e colaboradores , trouxe resultados discordantes. Nesse trabalho, as mulheres portadoras de espondilite anquilosante apresentam mais dor lombar (82,9% - 29/35 gestações) quando comparadas a mulheres sem essa doença (61,0% - 47/77 gestações). Ainda assim, 51% daquelas com espondilite anquilosante perceberam melhora da lombalgia, 24% piora e 23% não observaram interferência da gestação nesse sintoma. A redução da dor foi mais significativa no primeiro trimestre da gravidez e no primeiro mês pós parto. Nesse grupo não houve reativação de psoríase, uveíte, artrite ou doença inflamatória intestinal (comorbidades relacionadas ao grupo das espondiloartrites) nem aumento de abortos. O autor atribui esses achados a persistência de baixa atividade de doença, maior tendência para dor mecânica e a descontinuação dos medicamentos.
O tratamento medicamentoso da EA é baseado em antiinflamatórios não hormonais, DMARDs (metotrexate e sulfassalazina) e anti-TNF. Quanto ao uso de anti-inflamatórios, naproxeno e ibuprofeno são os mais frequentemente usados na gestação. Considerando-se esses medicamentos em doses padrão, sua classificação quanto ao risco ao feto é B, já que estudos de reprodução animal falharam em demonstrar risco ao feto. Ainda assim, há preocupações em relação ao período próximo ao parto pelo risco de hemorragia, fechamento prematuro do ducto arterioso e redução do líquido amniótico.
A sulfassalazina, outra medicação usada no tratamento da doença, também é classificada como B. O metotrexate é classificado como X (teratogênico). Já os medicamentos biológicos da classe dos anti-TNF (infliximabe, adalimumabe e etanercepte) são classificados pelo FDA (Food Drug Administration - EUA) como B. Podem ser usados caso tragam benefício a mãe. O infliximabe (IFX) não atravessa a placenta no primeiro trimestre por causa da sua fração IgG1 (parte da molécula). Entretanto, atravessa a placenta no segundo e terceiro trimestre. Por causa dessa característica, o feto ficaria protegido durante o período de formação de órgãos (1o trimestre). O IFX pode ser encontrado no sangue de recém nascidos por até 6 meses após o parto trazendo consequências em relação ao risco de infecção e à resposta vacinal. Menos informação existe sobre o adalimumabe e a passagem translacentária.
A gestação é um período que requer cuidados mesmo em pessoas hígidas. As pacientes com EA devem seguir em acompanhamento multidisciplinar com a obstetrícia, reumatologia e fisioterapia. Embora haja poucos estudos, aqueles existentes até agora não demonstram piora acentuada da doença de base.
Referências
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2) Nai Lee Lui, Nigil Haroon, Adele Carty, Hua Shen, Richard J. Cook Sutha Shanmugarajah, Dafna D. Gladman And Robert D. Inman. Effect of Pregnancy on Ankylosing Spondylitis: A Case-Control Study. J Rheumatol 2011;38;2442-2444
3) Karen Adams, Claire Bombardier, And Désirée M. Van Der Heijde. Safety of Pain Therapy During Pregnancy and Lactation in Patients with Inflammatory Arthritis: A Systematic Literature Review
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4) Renée M Marchioni and Gary R Lichtenstein. Tumor necrosis factor-α inhibitor therapy and fetal risk: A systematic literature review. World J Gastroenterol. 2013 May 7; 19(17): 2591-2602